quarta-feira, dezembro 10, 2003

Entrevista impagável

O secretário de Segurança do Estado do Rio, Anthony Garotinho, se irritou nesta quarta-feira com o jornalista Sidney Rezende durante entrevista à rádio CBN. Garotinho respondia perguntas sobre a segurança do Rio e começou a defender a tese de que a urbanização do Rio seria a causa do problema, criticando a Prefeitura e o prefeito Cesar Maia, que havia dado entrevista no mesmo programa momentos antes. Garotinho começou a citar exemplos da violência em São Paulo e de Brasília, quando foi interrompido pelo entrevistador. "Só um segundinho, porque o senhor está muito longe, já está lá em Brasília", disse ele. Garotinho se irritou. Confira trechos da entrevista.

Entrevistador- Secretário, eu não sei se o senhor ouviu a entrevista dada agora há pouco pelo prefeito Cesar Maia. Ele disse categoricamente, o que não estava explícito, de que o presidente da associação do complexo esportivo da Maré (da Vila Olímpica do Complexo da Maré) se afastou por ter sido ameaçado por traficantes. O senhor tinha essa informação?

Garotinho- Essa informação do prefeito não é verdadeira. Mais uma vez o prefeito, que já está acostumado a fazer isso, e a opinião pública do Rio o conhece bem, tenta misturar política eleitoral, eleitoreira, com política de segurança, que é um assunto sério. (...)

Entrevistador- Não seria mais sensato exigir do prefeito comprovação do que ele está dizendo. Porque afinal, ele demonstrou segurança na entrevista.

Garotinho- Eu ouvi a entrevista e ele não demonstrou nenhuma segurança. Você está dizendo que ele demonstrou. Eu ouvi ele dizer que saúde era uma coisa subjetiva. Pode passar a fita de volta. Vamos parar com essa brincadeira. (...)

Entrevistador- Secretário, eu vejo que raramente o senhor perde o controle ou se mantém de uma maneira mais exaltada. O senhor está realmente exaltado. O senhor está indignado?

Garotinho -Não. Absolutamente. Eu não estou, nem sem controle e nem tampouco revoltado e nem tampouco atingido com as palavras do prefeito. Eu estou indignado. E a indignação é um dever de todas as pessoas de bem que tem que se indignar diante da inverdade que é algo que incomoda as pessoas.

Depois de falar sobre sua atuação à frenta da secretaria, garotinho criticou a urbanização da cidade que, segundo ele, seria a maior responsável pela situação de violência do município. O uso do solo é atribuição do município. Ele passou a falar dos índices de criminalidade de São Paulo e Brasília, que seriam maiores do que os do Rio. Foi interrompido pelo apresentador e ficou irritado.

Entrevistador- Secretário, me desculpe, secretário, eu compreendo. Só um segundinho, porque o senhor está muito longe, já está lá em Brasília. Vai perder o controle aqui do assunto central.

Garotinho- Você tem esse hábito de querer fazer chacota com as pessoas quando estão dando entrevista no seu programa. Eu exijo de você respeito. Eu sou secretário de Segurança, sempre lhe tratei com todo o respeito. O senhor por favor me trate com respeito. Eu sempre lhe tratei com respeito e não estou aqui para terminar as minhas entrevistas ouvindo piadinha sua.

Entrevistador- Bom, eu não estou fazendo piadinha, o senhor deve tomar água com açúcar. O senhor sim é que deve me respeitar. Eu não estou desrespeitando o senhor em absoluto.

Garotinho- Você é repórter, tem que ter responsabilidade com a opinião pública, com seus ouvintes e deve respeitar os seus ouvintes.

Entrevistador- Secretário, eu peço que o senhor fique mais tranqüilo.

Garotinho- Eu estou absolutamente tranqüilo.

Entrevistador- Não está não, secretário. O senhor está perdendo o controle sem razão.

Garotinho- Se você medir a minha pressão agora vai estar 12 por 8. Estou absolutamente tranqüilo. Eu exijo de você aquilo que um profissional deve ter: profissionalismo e respeito ao entrevistado.

Entrevistador- Secretário, a mim o senhor não exige nada. O senhor mantenha-se na sua posição e eu na minha. E a opinião pública é que deve merecer o respeito de nós todos. O senhor está desrespeitando a ela, ao nosso público, e não a mim. A mim, o senhor não exige nada.

Garotinho- Eu exijo, sim. Exijo porque você tem que tratar todos os entrevistados do programa da mesma maneira.

Entrevistador- Secretário, o senhor passe muito bem, o senhor passe muito bem. E tenha um bom dia, secretário. Um bom dia de trabalho para o senhor. Onze horas e vinte e oito minutos.

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