sexta-feira, janeiro 02, 2004

História de Natal

Era seu primeiro ano fantasiado com aquela roupa vermelha e barbas brancas. Precisava de grana e não seria tão difícil assim sentar no sofá de uma casa qualquer e ser abraçado por um monte de crianças. O máximo que precisava era acariciar os pequeninos, distribuir presentes e soltar uns "ho, ho, ho". Não seria tão mal assim trabalhar na noite de Natal.
Chegou um pouco antes das 22h e tocou a campainha. Papai Noel moderno é assim, vem de táxi e chega pela porta de entrada do apartamento. Na sala, uma típica família reunida, crianças histéricas correndo pela sala.
Após a entrega de presentes, de repente, se vê sozinho. Todo mundo se volta para a mesa e o deixa sentado no canto do sofá. Um rapaz percebe seu constrangimento, tenta puxar papo. Sente fome, mas todos parecem não vê-lo ali.
Lá pelas tantas, quando a mesa só tinha resquícios de peru, presunto, farofa e arroz, uma das pessoas chega a ele:
- Papai Noel, o senhor quer ceiar?
- Não, obrigado. E mostrou que a barba não permitia que ele abrisse a boca.
Naquele momento percebeu que não tinha mais nome, que estava longe da família e que era apenas um Papai Noel acuado no meio de gente desconhecida.
Chegou a hora de partir. Se despediu de todos e entrou no elevador. A noite estava só começando. A porta bateu, tocou o botão do térreo e o elevador não se moveu. Estava preso.
Pensou que conseguiria ajuda da família que o contratou. No lado de fora ouvia alguém falando "Papai Noel está preso no elevador". Imediatamente, um estrondo de risos.
Virou de costas para não ter que encarar as pessoas e a situação. Um menino resmungava:
- Por que ele não usa sua mágica para sair do elevador?
Uma criança teve a infeliz idéia de enfiar banana pela janelinha para alimentá-lo. Antes se sentia um palhaço de circo, agora um animal enjaulado no zoológico.
Duas horas depois, o elevador funcionou e ele foi levado até a portaria. Fez sinal e entrou no táxi. Ao longe, ouvia uma voz infantil:
- Esse Papai Noel não tá com nada. Ele nem usa mais trenó.
- Puta que pariu, segue para a Vila da Penha.

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