A decepção que precede a esperança
(Carolina Bessa)

Nas mesas dos bares, nas redações de jornal, nas festinhas de família, o assunto tem sido um só: o fim da esperança, o descrédito total no governo Lula. Tenho dito sempre o mesmo: a esperança, o sonho de um governo de esquerda realmente acabou para uma geração, para aquela que mais lutou para ver o PT no poder. Pessoas como meu pai, aqueles que foram estudantes nos Anos de Chumbo, outros que foram para o exílio, os que estiveram na campanha das Diretas Já e que depois viram a democracia começar capenga com um caçador de marajás. Nossa, eles viveram tanta coisa e acreditavam que realmente estavam chegando à velhice com sensação de dever cumprido. Pronto, tinham deixado um país mais justo, mais humano para seus filhos. E agora? Para essas pessoas realmente não há tempo de ver tudo mudar, os corpos cansados de luta não conseguirão juntar cacos e recomeçar. Mas minha geração, que já chegou ao mundo acomodada, que pegou o bonde da história andando e pouco fez para mudar, pode e deve acreditar. Estamos na casa dos 30, temos muitos anos pela frente para ver surgir outra liderança, outra ideologia. Não dá para desistir tão cedo. Se nossos pais esperaram perder três eleições para só depois ganhar uma, que agüentaram torturas, perseguições e repressão em quase 20 anos de ditadura, porque não podemos perseverar? Eles sofreram nocaute, mas nós estamos só no primeiro round.