Chico Buarque acaba de ganhar o prêmio Jabuti com seu livro "Leite derramado". O texto, único que li do cantor/compositor/escritor foi uma surpresa boa. Adorei saber a história daquele velho que ora conta seu passado, ora delira. No fim das contas, a gente não sabe o que realmente é verdade e o que é imaginação do personagem.
A história se apresenta da mesma forma que a música Velho Francisco. Apesar de serem pessoas diferentes, na música, o negro alforriado lembra seu passado, fantasia vivências e depois cai em si, lembrando que está em uma casa de repouso para idosos. Tanto o livro como a música são de uma sensibilidade e genialidade de que só Chico é capaz.
Para quem não conhece, a música é esta abaixo:
Velho Francisco
Já gozei de boa vida
Tinha até meu bangalô
Cobertor, comida
Roupa lavada
Vida veio e me levou
Fui eu mesmo alforriado
Pela mão do Imperador
Tive terra, arado
Cavalo e brida
Vida veio e me levou
Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Ela vem toda de brinco
Vem todo domingo
Tem cheiro de flor
Quem me vê, vê nem bagaço
Do que viu quem me enfrentou
Campeão do mundo
Em queda-de-braço
Vida veio e me levou
Li jornal, bula e prefácio
Que aprendi sem professor
Freqüentei palácio
Sem fazer feio
Vida veio e me levou
Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Ela vem toda de brinco
Vem todo domingo
Tem cheiro de flor
Eu gerei dezoito filhas
Me tornei navegador
Vice-rei das ilhas
Da Caraíba
Vida veio e me levou
Fechei negócio da China
Desbravei o interior
Possuí mina
De prata, jazida
Vida veio e me levou
Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Hoje não deram almoço, né?
Acho que o moço até
Nem me lavou
Acho que fui deputado
Acho que tudo acabou
Quase que Já não me lembro de nada
Vida veio e me levou
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