sexta-feira, janeiro 06, 2012

Cada mergulho, um flash

Hoje vou fazer um post indignado sobre a maneira como as pessoas desaprenderam a viver, a apreciar uma paisagem ou assistir a um espetáculo desde que se inventou a máquina fotográfica digital. E olha, aqui está falando alguém que adora fotografias.

Antigamente, debochávamos dos turistas japoneses, com suas máquinas no pescoço clicando freneticamente tudo o que viam pela frente quando estavam visitando um lugar novo. Agora, todo mundo resolveu seguir isso e o ser humano deixou de ver a vida sem ser por uma lente fotográfica.

Não basta estar em um lugar novo para sentir o clima local, apreciar quadros de artistas famosos, assistir a um balé ou visitar um monumento histórico. É preciso tirar uma fotografia in loco para depois postar no Facebook ou qualquer outra rede social. O importante não é estar, se emocionar e aprender, mas viver de aparência. Todos querem mostrar para os amigos onde estiveram, mesmo sem ter aproveitado um momento sequer no local. Na realidade, a pessoa tirou a fotografia, se preocupou em não perder um ângulo, mas será que viveu aquele momento? Será que conseguiu se emocionar com uma música ou com uma arte qualquer? Provavelmente, não! Estava muito ocupado!

Essa atitude moderna, muitas vezes, torna-se até uma falta de educação e respeito com os outros. Ontem mesmo, estava no Theatro Municipal, entretida com um espetáculo. Ao meu lado, um grupinho não cansava de tirar fotografias, mesmo depois de terem avisado que era proibido fazer isso durante a apresentação. E me diz, para quê? As fotos serão mais algumas no meio das outras 300 mil que a pessoa provavelmente nem voltará a ver. E será que ela apreciou e entendeu o que estava diante de si? Conseguiu se emocionar? Não, preferiu trocar seus olhos pelas lentes das câmeras.

Acho uma mania muito feia essa, de se passar por cima do que recomendam e, geralmente com motivo, só para satisfazer seu capricho. Fotografar pinturas sacras, quadros e outras artes, por exemplo, só as estragam e impedem que outras gerações possam conhecê-las como realmente foram feitas. Certa vez, outro episódio me deixou raivosa. Uma mulher chegou atrasada em uma visita a uma igreja histórica que visitávamos, logo depois de o guia ter informado que não podia se fotografar. Educadamente, uma pessoa avisou que não era permitido, já que ela poderia estar ingênua na situação. Que nada, a folgada virou e disse: “vou dar uma de ‘joão sem braço’ e enquanto não chamarem minha atenção vou tirando minhas fotos”. Sinceramente, essas pessoas deveriam ser expulsas dos locais quando burlam as regras. Se não é permitido, tem um motivo.

Por isso, gente, eu clamo: aproveitem a vida, curtam a praia, o show, o balé, o quadro de Picasso, a Capela Cistina, o Cirque Du Soleil captando com a memória o que vêem. Esqueçam temporariamente as câmeras e só tirem realmente fotos nos ambientes externos ou nos intervalos das apresentações, por exemplo. Assim não estarão incomodando ninguém, nem danificando uma obra de arte, que poderá ser vista por seus filhos, netos e bisnetos. O mundo fica muito mais emocionante quando a gente relaxa, aprende a sentir os locais na sua essência e não fica apertando friamente o botãozinho de um aparelho.

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