Morreu José Saramago, aos 87 anos. Era um escritor do mais alto nível, mas também um senhor rabugento. Essa é a imagem que tenho dele, já que primeiro conheci a faceta pessoal, em uma entrevista coletiva. A admiração veio depois, quando mergulhei na leitura de Ensaio sobre a cegueira, Todos os nomes e As intermitências da morte . As histórias contadas sempre de forma reflexiva e extremamente criativas tem uma marca única do escritor, que não usa pontuação em seus textos. Muitas vezes, torna-se uma leitura difícil, mas não menos prazerosa.
Bom, quanto à imagem de zangado, isso me aconteceu há uns 10, 12 anos, em uma entrevista na Universidade Federal Fluminense (UFF). Eu era jornalista novata e trabalhava para a Folha Dirigida, um jornal de educação e concursos. Fui designada para conversar com ele sobre educação, leitura, etc. O escritor estava no Brasil para divulgar um dos seus livros, não lembro qual. Esperei Saramago falar sobre o que o trazia ao Brasil e, depois, fiz uma pergunta, que, confesso, saia do tema. Ele imediatamente virou para mim e falou mais ou menos assim: "ainda não terminei, você está me interrompendo". Isso, no meio de vários colegas. Fiquei com uma vergonha tremenda. Afinal, estava levando um passa-fora de um Prêmio Nobel de Literatura e todos os outros jornalistas estavam ali o bajulando. Saí possessa quando acabou a coletiva e nem quis saber de autógrafo como alguns presentes. Prometi que não queria saber mais daquele senhor.
Só fui ler um livro seu quando meu irmão ganhou "Ensaio sobre a cegueira" da namorada. Resolvi conhecer só para criticar depois, confesso. Mas mergulhei profundamente naquela narrativa e quis mais. Hoje acho essencial qualquer pessoa conhecer as obras deste fantástico escritor português, rabugento sim, mas um talento incontestável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário