quinta-feira, junho 16, 2011

Dona Naninha

Quando estou no trânsito sozinha, muitas vezes, me vejo pensando em alguns momentos da minha vida e em pessoas que por ela passaram. Hoje lembrei da vovó Ana ou dona Naninha, como muitos a conheciam. Ela se foi aos 80 anos, quando eu ainda tinha 13. Naquela época, ainda não tinha o hábito de sentar para ouvir as histórias dos mais velhos. Estava preocupada em brincar e começava a pensar em namorar.
Minha avó era uma boa pessoa, daquelas velhinhas calmas e tranquilas que vemos em filmes. Tenho poucas lembranças dela aborrecida. As suas únicas brigas eram para dar uma bronca no filho caçula. E o filho caçula já era um homem de 50 anos, no caso, meu pai.
Dona Ana era única na arte de fazer bolinhos de chuva. Nunca comi nenhum tão bom quanto os que ela fazia. Sempre levava uma latinha com um punhado  para as festas de família a que era convidada. Infelizmente, a receita se foi com ela. Tenho uma prima que até sabe fazer, mas não ficam tão fofinhos. Eram tão marcantes, que a tal guloseima era conhecida entre a gente como "o bolinho da vovó Ana"
Ela era uma senhorinha morena, alta e magra, que fazia um coque com seus cabelos branquinhos. Nascida e criada no interior da Bahia, falava palavras que só ela entendia. Usava vestidos estampados, daqueles que têm cinto de pano combinando. Ela usava anágua. E foi a última pessoa que vi usando essa peça de vestuário.
Conhecia no bairro, o padeiro, o açougueiro e o sapateiro. Andava devagarzinho, com aqueles passos curtinhos ia para lá e para cá. Não era raro, nos depararmos com ela, atravessando uma rua próxima. E dava aquela pontada no coração, de vê-la andando lentamente, enquanto motoristas afobados a esperavam cruzar a pista.
Na sua casa, tinha uma TV que sempre pegava mal. Geralmente íamos visitá-la aos domingos, no final da tarde. Para meu desespero,  passava naquele horário o meu programa preferido: Menudomania, com os meninos portoriquenhos que eram uma febre de meninas da época. E aquela televisão, sempre com chuvisco, me dava nos nervos. Isso me fazia abreviar a visita, para ir correndo para casa. Hoje lamento de não ter aproveitado mais a minha vózinha. Se eu soubesse que ela partiria tão rápido, eu teria curtido mais a velhinha. Enfim, são momentos que se vão, mas tornam-se imortalizados na memória.

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